Sempre quiz saber as causas que fizeram o avô Sebastian, na
década de 1930, trocar o seu belo sobrado no bairro da Penha (foto abaixo) por
um sítio no antigo distrito “Estação Belém SPR” (hoje Francisco Morato). Meus
pais diziam que foi por causa da revolução. Mas, qual revolução? De 1924 ou de
1932, acho que ambas.
Hoje, pesquisando e inspirado numa foto de um sobrado de
Vejer de la Frontera, de autoria da prima Vanessa Daque (filha do Mauro Daque)
que uma placa na fachada diz “Peluqueria Francisco Altamirano”, lembrei-me que o
avô Sebastian Altamirano foi barbeiro no bairro da Penha em São Paulo. Mas, o
que isso tem a ver com as causas da mudança?
São poucos os paulistanos que sabem ter sido a cidade de São
Paulo palco de duas revoluções, a de 1924 e a de 1932
Em 1924 teve a Revolta Paulista, motivada pelo
descontentamento dos militares com a crise econômica e concentração de poder
entre políticos paulistas e mineiros (oligarcas). Ficou conhecida como
“Tenentismo”, também chamada de Revolução Esquecida, considerada o maior
conflito urbano da história do Brasil: com explosão de bombas, aviões, tanques,
metralhadoras, moradias e prédios destruídos, população fugindo pelas ruas e
com mais de quinhentos mortos e milhares de feridos. Uma verdadeira guerra
civil. Duzentas mil pessoas fugiram em trens para o interior. A Revolução de
1924, foi um trauma enorme para a população civil paulistana que não estava
envolvida com o movimento militar.
A revolta durou 23 dias e forçou o presidente do estado
(governador) Carlos de Campos a fugir para o bairro da Penha, depois de ter
sido bombardeado o Palácio dos Campos Elíseos, então, sede do governo paulista,
e se instalar num vagão adaptado na antiga ESTAÇÃO GUAIAUNA da Central do
Brasil onde se encontravam as tropas federais vindas de Mogi das Cruzes (fonte Wikipédia
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_Paulista_de_1924)
Nessa época o avô Sebastian morava num belo sobrado, (já
demolido) construído por ele mesmo, próximo à estação GUAIAUNA, provavelmente
na própria rua GUAIAUNA - Penha (onde nasceu meu pai em 11 de setembro de 1924,
logo após a Revolta Paulista que foi em julho), e possuía uma barbearia na
parte de baixo do sobrado.
Pois é, meu pai contava que ele chegou a fazer a barba e
cabelo de muitos “pracinhas” na Revolta de 1924.
Oito anos depois teve a Revolução Constitucionalista de
1932, a mais conhecida, que começou com passeatas na cidade e terminou com um
massacre da Praça da República, onde foram mortos Martins, Miragaia, Dráuzio e
Camargo que originou a sigla MMDC. É a que se reverencia no feriado de 9 de
julho.
A Revolução Constitucionalista de 1932, de certo modo um
desdobramento da Revolução de 1924, foi um movimento armado ocorrido no estado
de São Paulo, entre julho e outubro de 1932. Deve ter sido a gota d’água para o
“barbeiro espanhol da Penha”
Tendo sido as guerras de independência das colônias
espanholas, (que recrutavam muitos filhos dos espanhóis), um dos motivos da
imigração para o Brasil, ele (o avô) deve ter ficado muito amedrontado com a
violência dessas “guerras urbanas”. (1924 e 1932) E, num instinto de proteção à
família resolveu se mudar do bairro da Penha para um lugar mais tranquilo como
um sítio em Francisco Morato – SP, “escondido” das guerras. Outra versão mais bem-humorada é que o
“espanhol turrão” achava que os filhos estavam ficando muito almofadinhas, se
mudou da cidade e colocou todos para trabalhar na lavoura.
Essa história são inferências pessoais, parte baseada em
relatos boca-a-boca e parte em pesquisa. Os detalhes e as causas reais talvez nunca
iremos conhecer.