segunda-feira, 11 de abril de 2022

UMA FAMÍLIA DE CORINTHIANOS E O BAIRRO DA PENHA

 

Assim como a Vila Pompeia é o “berço” de boa parte dos descendentes da família italiana Pelorca (de minha mulher Beth), o bairro da Penha em São Paulo pode ser considerado o berço dos descendentes da família de origem espanhola Altamirano no Brasil.

Pode-se dizer que o Corinthians está para os Altamirano, como o Palmeiras está para os Pelorca (onde parte da família se mudou de Dumont – SP- para a Vila Pompeia na década de 1940 quando o Palestra vira Palmeiras) cujo bisavô italiano da Beth, Michele Marchese, era zelador do clube e faleceu dentro do próprio Palestra Itália e o seu avô materno, também italiano, Saturnino Pelorca, cuidava das quadras de tênis do mesmo clube. Apesar dessa proximidade e tradição com o clube ela (a Beth) não torce pelo Palmeiras, mas, a maior parte dos seus primos é palmeirense.(nota do autor)

A maioria da primeira geração brasileira da família de emigrantes Altamirano, nasceu na Penha para onde se mudaram vindos das fazendas de café do interior. Inclusive grande parte dos oito filhos do avô Sebastian e da avó Pepa. Nessa lista está o meu pai Sebastianito que nasceu em 11 de setembro de 1924 na rua Guaiaúna -Penha- logo após a Revolta Paulista de 1924.

 

O CORINTHIANS inaugura sua sede no Parque São Jorge, a famosa Fazendinha, em 1926, meu pai, então, contava apenas 2 anos de idade

A Penha é considerada um dos bairros mais antigos de São Paulo (1682- só perdendo para Santo Amaro).

Sendo um bairro vizinho ao Tatuapé – e ao subdistrito Parque São Jorge, sede do Corinthians, boa parte da família Altamirano, viu no clube obviamente uma forma de lazer. Conta-se que a tia-avó Aurora Altamirano Dachi, irmã do avô Sebastian Altamirano e a tia-avó Dolores Vasquez Hidalgo, esposa do tio-avô Juan Altamirano, foram assíduas frequentadoras da piscina do Corinthians desde a época que era um “cocho” no Rio Tietê (limpo na época)

Daí, essa tradição de frequentar o Parque São Jorge/Corinthians por proximidade virou torcida familiar pelo Corinthians com raras exceções. Só o pai do Mauro Daque, Juarez (Altamirano) Daque (91) é socio do Corinthians há mais de 70 ANOS. Eu sou sócio há quase 40 ANOS e levo o nome de Gilmar em homenagem a Gylmar dos Santos Neves, grande goleiro do Corinthians Campeão Paulista do IV Centenário de São Paulo, ano em que nasci. Fui batizado na antiga igreja NS Penha que dá nome ao bairro e concluí o ensino médio no IEE NS Penha (hoje Escola Estadual).

Por tudo isso, para comemorar a chegada dos Altamirano ao Brasil (1911) realizei o primeiro encontro, (1995), numa “festa flamenca” no Corinthians, com quase 100 membros descendentes da família. Digamos que foi uma volta às origens.

Atualmente, apesar de viver na Vila Pompeia, sou conselheiro trienal eleito do Corinthians (reeleito) com mandato até esse ano (2022).



terça-feira, 15 de março de 2022

UM BARBEIRO ESPANHOL FOGE DAS “GUERRAS PAULISTAS”

 

Sempre quiz saber as causas que fizeram o avô Sebastian, na década de 1930, trocar o seu belo sobrado no bairro da Penha (foto abaixo) por um sítio no antigo distrito “Estação Belém SPR” (hoje Francisco Morato). Meus pais diziam que foi por causa da revolução. Mas, qual revolução? De 1924 ou de 1932, acho que ambas.

Hoje, pesquisando e inspirado numa foto de um sobrado de Vejer de la Frontera, de autoria da prima Vanessa Daque (filha do Mauro Daque) que uma placa na fachada diz “Peluqueria Francisco Altamirano”, lembrei-me que o avô Sebastian Altamirano foi barbeiro no bairro da Penha em São Paulo. Mas, o que isso tem a ver com as causas da mudança?

São poucos os paulistanos que sabem ter sido a cidade de São Paulo palco de duas revoluções, a de 1924 e a de 1932

Em 1924 teve a Revolta Paulista, motivada pelo descontentamento dos militares com a crise econômica e concentração de poder entre políticos paulistas e mineiros (oligarcas). Ficou conhecida como “Tenentismo”, também chamada de Revolução Esquecida, considerada o maior conflito urbano da história do Brasil: com explosão de bombas, aviões, tanques, metralhadoras, moradias e prédios destruídos, população fugindo pelas ruas e com mais de quinhentos mortos e milhares de feridos. Uma verdadeira guerra civil. Duzentas mil pessoas fugiram em trens para o interior. A Revolução de 1924, foi um trauma enorme para a população civil paulistana que não estava envolvida com o movimento militar.

A revolta durou 23 dias e forçou o presidente do estado (governador) Carlos de Campos a fugir para o bairro da Penha, depois de ter sido bombardeado o Palácio dos Campos Elíseos, então, sede do governo paulista, e se instalar num vagão adaptado na antiga ESTAÇÃO GUAIAUNA da Central do Brasil onde se encontravam as tropas federais vindas de Mogi das Cruzes (fonte Wikipédia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_Paulista_de_1924)

Nessa época o avô Sebastian morava num belo sobrado, (já demolido) construído por ele mesmo, próximo à estação GUAIAUNA, provavelmente na própria rua GUAIAUNA - Penha (onde nasceu meu pai em 11 de setembro de 1924, logo após a Revolta Paulista que foi em julho), e possuía uma barbearia na parte de baixo do sobrado.

Pois é, meu pai contava que ele chegou a fazer a barba e cabelo de muitos “pracinhas” na Revolta de 1924.

Oito anos depois teve a Revolução Constitucionalista de 1932, a mais conhecida, que começou com passeatas na cidade e terminou com um massacre da Praça da República, onde foram mortos Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo que originou a sigla MMDC. É a que se reverencia no feriado de 9 de julho.

A Revolução Constitucionalista de 1932, de certo modo um desdobramento da Revolução de 1924, foi um movimento armado ocorrido no estado de São Paulo, entre julho e outubro de 1932. Deve ter sido a gota d’água para o “barbeiro espanhol da Penha”

Tendo sido as guerras de independência das colônias espanholas, (que recrutavam muitos filhos dos espanhóis), um dos motivos da imigração para o Brasil, ele (o avô) deve ter ficado muito amedrontado com a violência dessas “guerras urbanas”. (1924 e 1932) E, num instinto de proteção à família resolveu se mudar do bairro da Penha para um lugar mais tranquilo como um sítio em Francisco Morato – SP, “escondido” das guerras.  Outra versão mais bem-humorada é que o “espanhol turrão” achava que os filhos estavam ficando muito almofadinhas, se mudou da cidade e colocou todos para trabalhar na lavoura.

Essa história são inferências pessoais, parte baseada em relatos boca-a-boca e parte em pesquisa. Os detalhes e as causas reais talvez nunca iremos conhecer. 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

"CAE SEBASTIAN"

 

O “abuelo” Sebastian era o filho mais velho da família de andaluzes Altamirano que imigrou para o Brasil em 1911. Enquanto os outros filhos se casaram aqui no Brasil ele já veio casado da Espanha com a “abuela” Pepa. Faleceu aos 83 anos(1988-1971) e morou até o fim da vida em Itanhaém - SP, adorava praia já que vinha de uma cidade à beira mar no sul da Espanha, VEJER DE LA FRONTERA – CADIZ, que, apesar de seu “casco antiguo” ficar sobre uma colina há 201 metros do nível do mar, o município inclui a praia de “El Palmar” há dez quilômetros do centro da cidade. Muito parecida com as praias do litoral sul de São Paulo https://youtu.be/oIm9NougyQg

Já velhinho em Itanhaém, vivia caindo devido a idade avançada e toda vez que caia ele soltava esta “pérola”: Cae Sebastian, tu mujer dijo que ya no vales uma mierda.



domingo, 30 de janeiro de 2022

“ESTE DINERO QUE TU ME DA A MI, IO ME LO BEBO EN VINO”

 



A religião e os templos religiosos sempre fizeram parte da história das cidades espanholas, sejam cristãos ou muçulmanos, e Vejer não é diferente. Além do castelo se destaca a igreja Parroquia del Divino Salvador. Que foi construída sobre os restos de uma antiga mesquita Árabe. Em Vejer entre as principais festas típicas estão as religiosas. Sempre em louvor da Virgen de la Oliva, patrona da cidade https://youtu.be/_h9OWy2JEoM

 Portanto, não poderia faltar numa família vejeriega história de padres como nessa pérola da tia-avó Aurora

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

OS QUADROS DO TIO-AVÔ LUIZ – A ARTE NA FAMÍLIA

 



A arte sempre esteve presente na Família Altamirano, até a Tia-Avó Aurora pintava quadros.

José Luiz Altamirano Fernandez, O tio-avô Luiz, que era pintor e escultor, deixou como legado para a família, seus quadros que retratavam paisagens, casarios, arcos, moinhos, a maior parte provavelmente de lembranças que ele tinha de Vejer. Muitas dessas obras conheci na casa da avó Josefa e na casa da prima Conceição Altamirano Gonzalez. Um de seus quadros retrata um arco romano típico na Espanha e obviamente em Vejer. Um quadro pintado pela Tia-Avó Aurora e uma das esculturas em madeira do Tio-Avô Luiz, se encontra no acervo do primo Mauro Daque). O primo João Altamirano Grechinski, neto do tio-avô Juan Altamirano possui um belo acervo dessas obras do Tio-Avô Luiz, inclusive um quadro de São Jorge – não sei se tem alguma referência ao Corinthians.

Meu pai Sebastianito, era exímio violonista seus irmãos Luiz e Germano, se não me engano, também tocavam algum instrumento. Sua irmã Tia Aurora era atriz e dançarina, com uma história de vida fantástica, mas, controversa para sua época. Até recentemente o Ariovaldo Altamirano (precocemente levado pela Covid), filho do Germano Altamirano irmão de meu pai, era o herdeiro mais promissor desse talento nas artes plásticas. Deixou como legado entre inúmeros retratos e naturezas-mortas, duas pinturas magníficas tendo como referência Vejer de la Frontera

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

"NI EL DIABLO ME QUIERE"

 


O avô Sebastian e a avó Pepa, após Belém SPR, (Francisco Morato) viveram seus últimos anos em Itanhaém para onde já costumavam viajar no verão. E quando nós os visitávamos lá ia o avô Sebastian ao amanhecer com sua típica boina espanhola, um “borná” e uma foice cortada, pegar mariscos frescos nas pedras à beira do mar. Um evento muito perigoso. Ele ia sempre na maré baixa quando era mais fácil coletar os mariscos. Pelas suas origens, perto da costa no sul da Espanha, adoravam frutos do mar. Vó Pepa fazia um arroz com mariscos de lamber os beiços. Numa dessas vezes ele não percebeu que a maré estava enchendo, veio uma onda mais forte e jogou o vô Sebastian ao mar. Ao mesmo tempo que o devolvia sobre as pedras.

Já estávamos preocupados com a demora, quando ele surge no portão, todo ralado pelas pedras e conchas, bradando pela Avó Pepa: - “Quija, ni el diablo me quiere.”
(Não está claro para mim qual a expressão correta que o avô Sebastian chamava a avó Pepa: “Quija” – em português – mas não sei em espanhol o que significa e como se escreve. Talvez os primos de Vejer possam dizer)

"LA MUJER Y LA GALLINA"

 Na década de 1930, numa época tumultuada em São Paulo pela Revolução de 32, o avô Sebastian resolveu trocar o seu belo sobrado no bairro da Penha, que ele mesmo havia construído, por um sítio na “estação” Belém SPR (Francisco Morato grande São Paulo). Os filhos “almofadinhas da cidade” detestaram a falta de infraestrutura do lugar, sem energia elétrica e trabalho duro na lavoura era demais para eles. Contava meu pai que o sítio era próximo de uma lagoa com muitos sapos-boi. Como não entendiam nada de sapo-boi, o coaxar era confundido com o berro das cabras. Então, meu avô os fazia levantarem de madrugada para verificar se as cabras não estavam se enforcando. O irmão do meu pai o tio Antonio, chegou a cortar o próprio pé com a enxada para parar de trabalhar. O vô Sebastian, espanhol turrão, gritou: “Orina tus piés y trabaja”. Logo depois se mudaram para a Vila Espanhola, (chama-se assim pelas famílias de espanhóis pioneiras que formaram essa vila) na mesma cidade, na famosa Rua das Camélias – onde nasci.

Todos os dias pela manhã bem cedo, quase de madrugada, os vizinhos da época eram “obrigados” a ouvir o avô Sebastian entoar em alto e bom tom, sempre descendo a rua das Camélias, versos e frases como “La mujer y la gallina” e “A madrugada que já passou não volta mais” entre outros que já não me lembro mais.
(a frase está em bom portunhol) 

UMA FAMÍLIA DE CORINTHIANOS E O BAIRRO DA PENHA

  Assim como a Vila Pompeia é o “berço” de boa parte dos descendentes da família italiana Pelorca (de minha mulher Beth), o bairro da Penha ...